Apesar de muito se falar de saúde mental, o estigma sobre a mesma continua a ser intenso e a afastar as pessoas de terem os cuidados de saúde que precisam. Muitas pessoas demoram anos a procurar ajuda. Inicialmente não compreendem o que sentem.
Numa fase posterior percebem que estão a sofrer e que precisam de ajuda. Habitualmente só num momento de dor intensa é que acabam por pedir ajuda. E aí, a ajuda tem de ser urgente. Para a primeira consulta, todos têm muita urgência que seja marcada, mas se procurarmos ajuda mais cedo, também a encontramos mais depressa, mesmo que não seja urgente.
Praticamente todas as pessoas têm opiniões sobre psiquiatras e consultas de psiquiatria, mesmo sem nunca terem ido a nenhuma. Desde os medos mais habituais de ficarem a “babar”, dormir, engordar, mudar de personalidade, dependentes, ... Mas nada disto acontece “de propósito” ou sempre. O esforço dos especialistas é ouvir as necessidades da pessoa e diminuir ao máximo a probabilidade destes efeitos secundários aparecerem. E só um especialista o sabe fazer.
Quantas pessoas tomam xanax® (alprazolam), lorenin® (lorazepam), lexotan® (bromazepam), unisedil® (diazepam) e tantos outros e acham que não tomam medicamentos da psiquiatria? Infelizmente muitas das vezes fazem-no e escolhem os medicamentos com que se sentem “bem” e não aqueles que realmente as ajudam. Os medicamentos acima descritos, fazem parte da família dos ansiolíticos, benzodiazepinas, e são os que mais causam dependência e dificuldades de memória.
Grande parte dos efeitos secundários é ultrapassável. É fundamental procurar um especialista para isso e não consultas de neurologia, a medicina interna, neurocirurgia e tantas outras para tratarem as doenças mentais. Procurar a especialidade errada é estigma. Os únicos médicos especialistas devidamente treinados e com obrigação de estarem atualizados no tratamento da saúde mental são os especialistas em Medicina Geral e Familiar (médicos de família) e em Psiquiatria. Quando se procura ajuda médica devem ser estes especialistas a procurar.
Quando é que devemos procurar um psicólogo em vez de um médico? Quando é que devemos ir a um psiquiatra em vez de um especialista de Medicina Geral e Familiar?
Um psicólogo tem um trabalho fundamental nas várias gravidades das doenças psiquiátricas. Quando os sintomas são ligeiros a moderados a eficácia pode ser comparada à da medicação. Para casos moderados a grave a sua atividade deve ser acompanhada de medicação. O mesmo princípio serve para a decisão entre especialista de Medicina Geral e Familiar e de Psiquiatria. Em fases iniciais o tratamento pode ser realizado pelos primeiros e nos casos graves e recorrentes, deve ser um psiquiatra a orientar o tratamento.
A primeira consulta causa muita ansiedade. Várias pessoas levam familiares ou amigos para se sentirem seguras. O que deve esperar encontrar na primeira consulta com psiquiatra? Deve encontrar um profissional calmo, que ouve mais do que fala, que procura compreender que tipo de ajuda precisa. Lembre-se, não existe nenhuma bola de cristal que permita fazer um bom trabalho. Tudo depende da informação que transmitir. Não precisa de se preocupar em contar a história da sua vida. Limite-se ao fundamental. Todos os que procuraram ajuda até hoje, viveram pelo menos 18 anos e a maioria mais de 40. Com tantos anos vividos, como é que podemos contar o que passámos em 30 a 90 minutos? O fundamental é como se sente, o que aconteceu imediatamente antes de se sentir assim, se já teve outros episódios na vida, se teve internamentos, que medicação faz. LEVE TODA A MEDICAÇÃO QUE FAZ, como a toma e ainda suplementos alimentares. Só assim se evitam interações medicamentosas. As outras informações fundamentais são: apetite, sono, líbido, energia, vontade de trabalhar, pensamentos de morte, entre outras alterações ao seu corpo e vida diária. Pensamentos de morte, ouvir vozes ou acreditar em coisas que os outros não acreditam são sinais de necessidade de ajuda urgente/emergente e deve procurar ajuda imediata.
Publicado a primeira vez em Jornal da Madeira